Thursday, June 19, 2025

Tuesday, February 27, 2024

mar fixo em horizonte

mar coberto de passado

com brisa de pedra

    no olhar

      intempérie sol

    milénios mil

o tempo a escorrer

calcário

      entre reentrâncias que tocam

      a pele azul


e as pedras altas erguidas

apontam a permanência

  indicando uma força

potência

        significado em fuga sempre

      desafia os anos


são seres que falam

  entoam cantos

de outras eras

invocam mundos gentes

mistérios


  agora

escavam-se explicações

    no silêncio

      escritas de símbolos

significado diluído

em memória

só nome

arrastado pelo mar

      seguiu segue

  sem deixar rasto


nós

      seres de hoje

modernos e ignorantes

  fixamos as pedras

    sem saber ler

        afastamo-nos por momentos

  do efémero

olhamos

      o significado

tentamos perscrutar

outros horizontes


pedras

o que continuam a mostrar?

inútil ainda a riqueza

    vemos só

  palavras trôpegas

mas menir

  esse centro de estabilidade

imóvel

nu do supérfluo

apoiado no fundo

fiel ao ritmo do universo

segue as leis sagradas

  de quem o chamou

    nessa neblina incerta

    de eras afundadas

e nomes que se esfumaram


menir é mestre

  do movimento mínimo

passagem de tempo a outra dimensão

para te conhecer é preciso ser

pedra

entrar na pedra

sorver indecifráveis éones


tu

    afinal subtil

parecendo denso de matéria

transbordas estórias

embebidas em cântico

Voz

um oceano que vibra

      em inúmeras memórias

    seladas

à mente concreta

de seres contemporâneos

    olhos

cegos de pedra

monumentos fixos

não veem

    não sentem

o significado transparente

    aberto

        analfabetos

do essencial

seguimos

ruminando saber

mas o coração morreu

      seco de sangue

    no ver

ver

      pedras vivas

      com rio dentro

a desafiar a mente

do moderno fechado

nesse mundo cinzento


vós

      pedras vivas sim

com sangue dentro

        seiva estória

olhais o profundo

em permanente fala

voz de oceano

          retumbando como ondas

tilintam as conchas à beira-mar

assim, tu és

    pedra milenar

voz a indicar a distância

mistério

e também o agora

  mar fixo em horizonte…


Tuesday, February 20, 2024

Inesperadas pré-estórias de Vila do Bispo...

Menir do Padrão


Soube há pouco tempo, através da leitura de um artigo da revista National Geographic-Pré-História Ibérica, da existência de menires, de estelas (têm duas faces planas e paralelas) e de bétilos (são mais pequenos do que os menires) na zona de Vila do Bispo, na extremidade ocidental do Algarve, perto do promontório sagrado de Sagres. Hoje em dia só restam alguns em pé, mas segundo os arqueólogos, no passado chegaram a ser cerca de 300 (ou mais)!


Encontravam-se isolados ou em grupos, em alinhamentos ou em modo de cromeleque. Alguns apresentam ainda decorações em relevo ou gravados com linhas serpentiformes, entre outros. Junto desses monumentos megalíticos foram descobertos também artefactos, tais como lâminas de machado, mós manuais (etc.) que, segundo algumas interpretações, invocam atividades como a agricultura e a farinação de cereais.


Estive a pesquisar na internet e encontrei um blog dedicado a esta temática (https://vila-do-bispo-arqueologica.blogspot.com) com muitas informações arqueológicas sobre esta zona, bem como descrições do que foi encontrado e de locais já individuados para futuras escavações.


Após visualizar um video constante no blog acima referido, fiquei a saber que há vestígios muito antigos nesta zona, nomeadamente em Vale de Boi (Budens) com 34 000 anos. Aí também foi encontrada uma placa de xisto com 24 000 anos. Destaque para o Concheiro de Castelejo de 9 500 anos e a estação do neolítico da Cabranosa (também um local de observação de aves) com 6 500 anos.


Eu consegui visitar o menir do Padrão que tem 6 500 anos, é de fácil acesso, pois fica perto da estrada que vai até à praia da Ingrina. Ainda tentei encontrar a Pedra Escorregadia (de 4 700 anos), também uma antiga necrópole mas decidi deixar para outra altura.


Estes e muitos outros locais podem ser visitados com a ajuda da aplicação criada para o efeito BispoGo-Museu da Paisagem que guia o visitante até ao local exato. Propõe também diferentes rotas temáticas e muitos pontos de interesse à escolha.


Melhor ainda é começar por visitar o Museu Municipal de Vila do Bispo- O Celeiro da História, recentemente inaugurado e deixar-se surpreender pela antiguidade e beleza dos objetos expostos, acompanhados de apontamentos muito esclarecedores que nos transportam através das diferentes épocas. De apresentação moderna e cuidada, convida a visitar os locais mencionados e a sentir a energia envolvente.


Pois, muito se tenta explicar, mas pouco se sabe… o tempo foi apagando os indícios concretos e para nós, seres de agora, é muito difícil “imaginar” como era a vida desses nossos antepassados. Os motivos que os levaram a construir esses monumentos fica para além do nosso entendimento… Por mais que se queira…


Monday, January 22, 2024

movimento completo

difícil é exprimir

aquilo que sinto

mas faço um esforço

      é importante

dizer o essencial

   sagrado


movimento arrasta para fora

    o dentro

                símbolo que sou

                            cintila


frente a frente só

espelho e eu

               o grupo em dança única

eu petrificada no tempo

      prisioneira

    de gestos mecânicos

      um sussurro vazio

                  é energia morta


não sou livre não

isto é só uma imagem à superfície

                               que abraça o cristal

      em torno ao ser


não!

       essa aí

    de âmago imóvel

        não sou eu

          agora vejo

    claramente e sem véus


    não me envergonho

de partilhar o sofrimento

é uma constatação vinda do ser

 puzzle

com tantas peças espalhadas

                     desordenadas

          inconsciente eu


vi-me incapaz de coordenar aptidões

          possibilidades

voando ao sabor do vento

    este meu corpo descoordenado

    cada membro uma voz

    a puxar pelo seu fio


tantas possibilidades

a dançar sem direção!

    as partes guiadas por vontade egóica

                só mortal

          longe do movimento único

            que tudo envolve

   e eleva até tocar

    o sabor do grande Todo


tanto me foi dado

                    para ser inteira

         quero construir a estrada

        por onde passa o Dom

    partilhar o ritmo em baile

    ser um movimento completo

               vivo pelo Mundo

olhos fechados em escuro silêncio  tudo nada é