mar coberto de passado
com brisa de pedra
no olhar
intempérie sol
milénios mil
o tempo a escorrer
calcário
entre reentrâncias que tocam
a pele azul
e as pedras altas erguidas
apontam a permanência
indicando uma força
potência
significado em fuga sempre
desafia os anos
são seres que falam
entoam cantos
de outras eras
invocam mundos gentes
mistérios
agora
escavam-se explicações
no silêncio
escritas de símbolos
significado diluído
em memória
só nome
arrastado pelo mar
seguiu segue
sem deixar rasto
nós
seres de hoje
modernos e ignorantes
fixamos as pedras
sem saber ler
afastamo-nos por momentos
do efémero
olhamos
o significado
tentamos perscrutar
outros horizontes
pedras
o que continuam a mostrar?
inútil ainda a riqueza
vemos só
palavras trôpegas
mas menir
esse centro de estabilidade
imóvel
nu do supérfluo
apoiado no fundo
fiel ao ritmo do universo
segue as leis sagradas
de quem o chamou
nessa neblina incerta
de eras afundadas
e nomes que se esfumaram
menir é mestre
do movimento mínimo
passagem de tempo a outra dimensão
para te conhecer é preciso ser
pedra
entrar na pedra
sorver indecifráveis éones
tu
afinal subtil
parecendo denso de matéria
transbordas estórias
embebidas em cântico
Voz
um oceano que vibra
em inúmeras memórias
seladas
à mente concreta
de seres contemporâneos
olhos
cegos de pedra
monumentos fixos
não veem
não sentem
o significado transparente
aberto
analfabetos
do essencial
seguimos
ruminando saber
mas o coração morreu
seco de sangue
no ver
ver
pedras vivas
com rio dentro
a desafiar a mente
do moderno fechado
nesse mundo cinzento
vós
pedras vivas sim
com sangue dentro
seiva estória
olhais o profundo
em permanente fala
voz de oceano
retumbando como ondas
tilintam as conchas à beira-mar
assim, tu és
pedra milenar
voz a indicar a distância
mistério
e também o agora
mar fixo em horizonte…
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